Luto!
Luto!
Eu vim dos
rincões da pobreza, fui barrado no baile, discriminado pela classe que eu
adorei, desmistificado pela crença erótica
da perversão, corri contra o vento para não ser espancado, não adiantou, fui
molestado e estuprado por indução, mas
tudo isso não afetou meus anseios que vêm das profundezas de minha alma, não me
mostraram as dores de Cristo, vi somente sua pujança, e sem ter concepção fui
ultrajado pela indiferença, eu era pobre para
os ricos, e rico para o pobres, então a verdade era um encanto a cada
nascer do sol diante da vergonha e da
ignomínia, era fácil compreender os desejos impudicos, um não profundo seria ainda
mais compreensível muitos anos depois, e
de vergonha em vergonha não sabia que tudo era relatado nos chás
das três até pela Rainha da Inglaterra, e no velho casarão restou minhas
lágrimas quando eu voltei a vê-lo, o sótão onde eu, o Juarez e o Paulinha
jogávamos futebol de botão ficou pequeno pela minha altura, me curvei a ele , abri
sua janela ,eu não estava mais ali. Mas eu vi francamente m=minha mãe lavando
roupas feita uma serva de Jó.
E queria ter
sido poeta de nascença, teria então condições de gerir até minha própria vida
,e incomum veria as dores de meu saudoso pai
e compreenderia sua revolta, seria mais fácil perdoar os militares,
tirar notas boas em matemática, decifrar os enigmas contáveis, eu seria até
mais pragmático ao lidar com as emoções, mas cada uma delas eu teria me sensibilizado ao ver a velha casa
onde morava o Paulinho, e como um impulso muito grande de sobrevivência fomos
todos arrancados do velho casarão de
meus pais.
O bar que ele tinha
lá reprovou seu comportamento, entre crises e desencanto eu ia com ele no
interior do interior para vender tecidos por quilo, salames e guarda chuvas numa velha kombi movida a gás de cozinha ,eu
não via o perigo, simplesmente ia com ele
para notar seu silêncio , e assim eu via suas vendas escassas e sentia seu silêncio, e entre um cigarro e um trago ele me
levava de volta para a casa, e eu prontamente no final da tarde regava o
quintal que eu tanto amei, e as vezes íamos na serraria buscar gravetos que ele
tanto prezava para queima-los no velho fogão a lenha, era um mundo à parte, mas
ninguém queria entrar nele, era praticamente uma escravidão, mas eu amava como
um joaninha e uma lesma com razão nas folhas de alface, eu era contra adubo
químico e agrotóxico nas plantações, e os livros azuis de minha mãe continham
meu desejos sexuais, a alface que eu comia também, era uma travessa por dia, eu
mesmo plantava, eu mesmo lavava e eu mesmo comia. Autor Reginaldo Afonso Bobato
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