segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Luto!

 

 

 

 

Luto!

 

 

 

 

Luto!

 

 

Eu vim dos rincões da pobreza, fui barrado no baile, discriminado pela classe que eu adorei, desmistificado pela  crença erótica da perversão, corri contra o vento para não ser espancado, não adiantou, fui molestado e  estuprado por indução, mas tudo isso não afetou meus anseios que vêm das profundezas de minha alma, não me mostraram as dores de Cristo, vi somente sua pujança, e sem ter concepção fui ultrajado pela indiferença, eu era pobre para  os ricos, e rico para o pobres, então a verdade era um encanto a cada nascer do sol  diante da vergonha e da ignomínia, era fácil compreender os desejos impudicos, um não profundo seria ainda mais compreensível muitos anos depois,  e de vergonha em vergonha não sabia que tudo era relatado  nos  chás das três até pela Rainha da Inglaterra, e no velho casarão restou minhas lágrimas quando eu voltei a vê-lo, o sótão onde eu, o Juarez e o Paulinha jogávamos futebol de botão ficou pequeno pela minha altura, me curvei a ele , abri sua janela ,eu não estava mais ali. Mas eu vi francamente m=minha mãe lavando roupas feita uma serva de Jó.

E queria ter sido poeta de nascença, teria então condições de gerir até minha própria vida ,e incomum veria as dores de meu saudoso pai  e compreenderia sua revolta, seria mais fácil perdoar os militares, tirar notas boas em matemática, decifrar os enigmas contáveis, eu seria até mais pragmático ao lidar com as emoções, mas cada uma delas  eu teria me sensibilizado ao ver a velha casa onde morava o Paulinho, e como um impulso muito grande de sobrevivência fomos todos arrancados do velho casarão  de meus pais.

O bar que ele tinha lá reprovou seu comportamento, entre crises e desencanto eu ia com ele no interior do interior para vender tecidos por quilo, salames e guarda chuvas   numa velha kombi movida a gás de cozinha ,eu não via o perigo, simplesmente ia com   ele para notar seu silêncio , e assim eu via suas vendas escassas e sentia   seu  silêncio, e entre um cigarro e um trago ele me levava de volta para a casa, e eu prontamente no final da tarde regava o quintal que eu tanto amei, e as vezes íamos na serraria buscar gravetos que ele tanto prezava para queima-los no velho fogão a lenha, era um mundo à parte, mas ninguém queria entrar nele, era praticamente uma escravidão, mas eu amava como um joaninha e uma lesma com razão nas folhas de alface, eu era contra adubo químico e agrotóxico nas plantações, e os livros azuis de minha mãe continham meu desejos sexuais, a alface que eu comia também, era uma travessa por dia, eu mesmo plantava, eu mesmo lavava e eu mesmo comia.  Autor Reginaldo Afonso Bobato

                                                   


                                                  

Nenhum comentário:

Postar um comentário