Jornadas de um mendigo
ou de um príncipe?
Jornadas de um mendigo ou de um príncipe?
‘Minha
infância foi rica, graças aos pobres.
Engraxei sapatos, vendi sorvetes, plantei horta,
tentei vender flores para a micro empresa da tia Irene, piquei lenha, distribuí
alguns panfletos das Casas Pernambucanas, tive uma pequena criação de galinhas,
cuidei de cinco porcos do meu pai, arei a terra com uma cortadeira que me rendeu
calos salientes em minhas mãos, fui nos matos com meu pai para vender tecidos,
guarda-chuvas e salames típicos ucranianos.
Procurei
emprego como nunca, e ninguém de lá me conheceria na sua essência, esta minha
história pessoal era vergonhosa para quem não sujava suas mãos de terra, ou era
correta demais para quem jogava agrotóxico e adubo químico nas plantações,
presumo que seja isso, mais do que aquilo, que era vergonhoso.
Todos
os dias eu prestava atenção nos brotos das alfaces que eu semeava, do repolho
que era miúdo, da rúcula, da couve chinesa, das abobrinhas, era uma plantação
que exigia arado, e eu não hesitava de fazê-lo, pois eu tinha um amor profundo
que não me permitiria olhar para os olhos de ninguém, sobretudo da soberba, e
eu não sabia de onde vinha a discriminação que eu sofria ,sem saber, e esta
discriminação era quase que institucionalizada, e não sabia também que eu era nobre, não somente
de título, mas de causa, pois eu nunca comprei um único quilo de adubo, sobretudo
químico, nem uma gota de agrotóxico, eu ia buscar serragem numa extinta serraria
para virá-la junto a terra para gerar adubo orgânico, e hoje eu sei que a serragem
demora aproximadamente quinze anos para se decompor.
Eu
jamais imaginei que estes encantos iriam acabar com a vida de adulto, que as vezes
eu acho que não tem graças, e tudo aquilo era vida de criança?
Eu
levei a sério os ensinamentos do meu irmão mais velho, é ele quem me deu direção
para arar a terra coma cortadeira e semear em sulcos, tanto até que eu queria
ser técnico agrícola, mas ninguém me deu impulso para me mostrar que em Guarapuava
e em Irati existem colégios agrícolas, mas hoje eu quero ser escritor e discorrer
sobre tudo que eu passei, mesmo com erros, pois eu nunca tive uma fada madrinha
para me mostrar onde eu estava com quem eu estava, eu tive que descobrir o mundo
praticamente sozinho, com traumas que fariam o ser mais estúpido de todos rir,
e ele diria: Eu? Nem pensar. Autor Reginaldo Afonso Bobato
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