Um canto para ser lembrado
Um canto para ser
lembrado
Hoje
eu vi a praça Rui Barbosa aqui em Curitiba cheia de gente, catadores de lixo
reciclável, prostitutas abandonadas, garis concentrados nas bitucas, homens
livres presos aos trabalhos, e para não ser mais autista, traficantes e
contrabandistas nos cantos, nos encantos...
E
uma volta que eu dei no centro, a sobrevivência dos que sobraram, o resto quase
pedindo esmola, os sinos calados das igrejas, a rebeldia da inocência,
invólucros paternais que indicam terem mandados seus filhos trabalharem, e a
oferta das cocadas cheias de açúcar
dizem Deus ter abençoe ao compra-las, mas não alertam sobre o risco de se comer
açúcar, e envolvido em pensamentos profundos eu vi mais uma vez a Curitiba que
esfria em plena estação que seria quente, e que quase condena os indigentes embaixo das
marquises, a história se repete, vagabundos anônimos não conhecem a ordem
suprema de nossa bandeira nacional brasileira, ordem e progresso, e se a
conhecem a ignoram por força do dó que é ente, doente e pecaminoso, e se
sofrerem o resgate verão o regresso, em alguns casos, Curitiba paga a passagem
de volta, mas não apaga a má recordação do fracasso constitucional, aguentar um
trabalho duro e servil é resposta imediata para que tudo isso não ocorra, de um
lado o sofrimento, o medo e a dor de estar passando frio, e seu passado gelado
entre mil recordações, o primeiro trago, o primeiro gole, a primeira carreira,
o primeiro fumo, a letalidade de influências perniciosas nos diz que é o cio,
você quis ser macho e se machucou, te apresentaram tantas mentiras que se
parecem com a verdade, e lá na frente você encontrou a dura realidade de dormir
num chão gélido e temeroso, enquanto o sacerdote clama ao Deus dos miseráveis
em meio a um palácio suntuoso, e os míseros trocos caem devagar no chapéu velho
para sustentar o clero que não quer ser paupérrimo de jeito nenhum, e assim
glorificamos ao Deus incomum como aconteceu em Florença da renascença, não tem
como não se admirar com a cultura que não tem nada a ver com a pobreza que
Jesus defendeu, e de outra forma, que gere riqueza para o resgate social, e
assim, Cristo vive e renasce em meio a
riqueza e ostentação para suavizar as discrepâncias do mundo que não é meu, ah
é teu, ateu. Autor Reginaldo Afonso
Bobato
Nenhum comentário:
Postar um comentário