domingo, 16 de abril de 2023

Meus olhares tristonhos, de onde vinham?

 


Meus olhares tristonhos, de onde vinham?

 

                               

 

                Olhares sobre meu passado foram feitos por mim, meu pai dirigindo a velha Kombi me levando para lugares sem destino preestabelecidos por mim, eu relutava, mas acabava embarcando em seu notório silêncio, ele fumava dentro da Kombi, eu não gostava do cheiro, naquela época, a lei permitia este erro, e entre um cigarro e um trago eu ia fundo no interior que eu pouco notava, ele voltava para a cidade com a Kombi cheia de cascas de pinheiros que era outra atrocidade que a lei permitia, derrubavam árvores gigantes, e nunca deram uma taboa ao pai,  e eu não sei como, mas ele sabia onde encontrar suas cascas, e numa outra direção, eu não sabia onde eu estava, mesmo sabendo, Papanduva era a queridinha de meu pai, este tempo marcou minha história, eu cuidava da horta e achava que o simples arado com uma cortadeira era o suficiente além do adubo de serragem que demora a quinze anos para se decompor.

Boa parte de minha infância eu passei assim, longe dos conselhos de meus pais, eu teria que descobrir a vida por mim mesmo, e desta forma, ao arar a terra, descobri que tinha dores, e assim fui encaminhado para natação por um médico de Irati chamado Doutor Jorge.

                Mesmo com escassos recursos, minha bondosa mãe nos associou a um piscina.

                |Meu autismo era absoluto, eu ia nesta piscina somente para nadar e apanhar o sol, eu não via com profundidade a Raquel Lupepsa, a Teia) que a frequentava também.

                A primeira minha paixão foi a Ciumara, a segunda a Adriana Paiva e a terceira a Raquel Lupepsa, e eu me esqueci da amar a mim mesmo.

                Tudo vou trocar a limpo, minha história pessoal de minha infância era muito rica e não relatada para ninguém, em absoluto, eu simplesmente não poderia relatar, e hoje eu sei que toda vida deve ser preservada para que a história pessoa seja uma história com menos trauma o possível, e ninguém conseguirá apagar meu passado, muito menos meus relatos.

                Para os ricos eu era pobre, e para os pobres eu era rico, e  eu me lembro que eu estava brincando com um laranja próximo à janela de vidros, a laranja escapou de minha mão e foi bater na janela que quebrou, e ao notar que meu pai estava perto, corri feito um condenado para o terreno do vinho, meu pai correu atras e me pegou, ele me batera com uma cinta que ele tirou de suas próprias calças, e enquanto eu não me escondi embaixo de uma cama, ele não saciou sua vingança, daí então ele pegou uma pedra e quebrou todos os vidros da janela em  questão.

Todo meu esforço de sobrevivência fora ignorado por ele, e a humilhação foi muito grande porque quase todos os vizinhos e entes acompanharam o desfecho sem fazer absolutamente nada.  Autor Reginaldo Afonso Bobato 

               

 

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