Meus olhares tristonhos, de onde vinham?
Olhares
sobre meu passado foram feitos por mim, meu pai dirigindo a velha Kombi me
levando para lugares sem destino preestabelecidos por mim, eu relutava, mas
acabava embarcando em seu notório silêncio, ele fumava dentro da Kombi, eu não
gostava do cheiro, naquela época, a lei permitia este erro, e entre um cigarro
e um trago eu ia fundo no interior que eu pouco notava, ele voltava para a cidade
com a Kombi cheia de cascas de pinheiros que era outra atrocidade que a lei
permitia, derrubavam árvores gigantes, e nunca deram uma taboa ao pai, e eu não sei como, mas ele sabia onde encontrar
suas cascas, e numa outra direção, eu não sabia onde eu estava, mesmo sabendo, Papanduva
era a queridinha de meu pai, este tempo marcou minha história, eu cuidava da
horta e achava que o simples arado com uma cortadeira era o suficiente além do
adubo de serragem que demora a quinze anos para se decompor.
Boa parte de minha infância eu
passei assim, longe dos conselhos de meus pais, eu teria que descobrir a vida por
mim mesmo, e desta forma, ao arar a terra, descobri que tinha dores, e assim fui
encaminhado para natação por um médico de Irati chamado Doutor Jorge.
Mesmo
com escassos recursos, minha bondosa mãe nos associou a um piscina.
|Meu
autismo era absoluto, eu ia nesta piscina somente para nadar e apanhar o sol,
eu não via com profundidade a Raquel Lupepsa, a Teia) que a frequentava também.
A
primeira minha paixão foi a Ciumara, a segunda a Adriana Paiva e a terceira a
Raquel Lupepsa, e eu me esqueci da amar a mim mesmo.
Tudo
vou trocar a limpo, minha história pessoal de minha infância era muito rica e não
relatada para ninguém, em absoluto, eu simplesmente não poderia relatar, e hoje
eu sei que toda vida deve ser preservada para que a história pessoa seja uma
história com menos trauma o possível, e ninguém conseguirá apagar meu passado,
muito menos meus relatos.
Para
os ricos eu era pobre, e para os pobres eu era rico, e eu me lembro que eu estava brincando com um
laranja próximo à janela de vidros, a laranja escapou de minha mão e foi bater
na janela que quebrou, e ao notar que meu pai estava perto, corri feito um
condenado para o terreno do vinho, meu pai correu atras e me pegou, ele me batera
com uma cinta que ele tirou de suas próprias calças, e enquanto eu não me
escondi embaixo de uma cama, ele não saciou sua vingança, daí então ele pegou
uma pedra e quebrou todos os vidros da janela em questão.
Todo meu esforço de
sobrevivência fora ignorado por ele, e a humilhação foi muito grande porque quase
todos os vizinhos e entes acompanharam o desfecho sem fazer absolutamente nada. Autor Reginaldo Afonso Bobato
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