domingo, 18 de maio de 2025

Quando eu olhava para o chão devido, meu Deus, a que?

 


Quando eu olhava para o chão devido, meu Deus, a que?

 

 

 

Eu fui ensinado a cuidar da terra de uma maneira errada, mesmo que parecesse certa, e quando eu era criança eu nunca havia ouvido falar de compostagem, mas me disserem que serragem, fezes de galinhas e de gados, o tronco de bananeiras eram adubos, e assim eu procedia deste modo, providenciava todo este material e me punha a virar a terra com uma cortadeira ou apá como chamam alguns.

Eu ia buscar serragem na antiga serraria do Volks, uma empresa que faliu, cujo terreno agora pertence à rodoviária de Prudentópolis.

Era o único caminho que eu tinha coragem de dirigir a Kombi de meu pai.

Devido a este trabalho, eu tinha calos salientes em minhas mãos.

Eu tinha o sonho de ingressar num colégio agrícola, mas ninguém me deu direção, pois eu não sabia que nos municípios próximos como Irati e Guarapuava congregavam colégios agrícolas, e hoje, na pior das hipóteses eu seria um gerente de uma fazenda.

Eu plantava alface, rúcula, rabanete, nabo, abobrinha, pepino, repolho, milho e vagem, mas mesmo com todos os meus esforços a terra era fraca, eu colhia para gasto doméstico, e juro, tinha em casa verdura todos os dias.

Quem pode testemunhar que eu lavrei a terra em minha infância é o Paulo Roberto Alves Ramos, pois uma vez eu o chamei no quintal e imaturamente eu lhe disse:

Trabalhe, trabalhe aqui, e apontei o dedo para a terra, ele e mais um grupinho que lhe acompanhava deu as costas para mim.

Realmente o errado era meu irmão mais velho que me ensinou estas práticas de plantio, mas foi ali que eu descobri que tinha escoliose, foi o Dr Jorge, um médico de Irati quem diagnosticou esta doença em mim, as dores nas costas eu tenho até o dia de hoje, e já me acostumei, mas na época o Dr indicou natação para mim, e eu ia na piscina e via a voluptuosidade do corpo da Raquel Lupepsa, mas minha inocência e ingenuidade me diria que ela não me pertenceria, eu ao menos sabia conversar.

Não existia muito marasmo naquela fazenda, o Renato Russo estava enganado.

Eu tinha criação de galinhas e meu pai de quatro a cinco porcos.

Todos os dias eu regava as plantinhas e ia vê-las crescerem.

Hoje eu sou escritor, e se eu tiver uma chacra hoje em dia vai ser uma outra história, não a mesma história dos hortifrutis das grandes corporações, eu não empregarei nem uma gota de agrotóxico e de adubo químico, até aí eu copio o que a ramificação dos acontecimentos da infância me dizia em silêncio, mas não tinha filosofia alguma naquele lugar, era trabalho penoso, e se o Paulinho e o Juarez tivessem se submetido a estes trabalhos, o Carlos Roque Bobato teria sido o imperador, mas ele regressou de onde tinha ido e não acompanhava meus trabalhos.

É claro que plantar uma meia dúzia de mudas de alface num canteiro já preparado iria impulsionar meus aprendizados, mas eu creio que eles interpretaram como sendo escravidão, e nada, absolutamente nada me disseram, e daí eu fui arrastado para as fileiras do exército, sem nada a compreender. Autor-historiador Reginaldo Afonso Bobato

 

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