Quando eu olhava para o chão devido, meu Deus, a que?
Eu fui
ensinado a cuidar da terra de uma maneira errada, mesmo que parecesse certa, e quando
eu era criança eu nunca havia ouvido falar de compostagem, mas me disserem que
serragem, fezes de galinhas e de gados, o tronco de bananeiras eram adubos, e
assim eu procedia deste modo, providenciava todo este material e me punha a
virar a terra com uma cortadeira ou apá como chamam alguns.
Eu ia buscar
serragem na antiga serraria do Volks, uma empresa que faliu, cujo terreno agora
pertence à rodoviária de Prudentópolis.
Era o único
caminho que eu tinha coragem de dirigir a Kombi de meu pai.
Devido a este trabalho, eu tinha
calos salientes em minhas mãos.
Eu tinha o
sonho de ingressar num colégio agrícola, mas ninguém me deu direção, pois eu
não sabia que nos municípios próximos como Irati e Guarapuava congregava colégios
agrícolas, e hoje, na pior das hipóteses eu seria um gerente de uma fazenda.
Eu plantava alface,
rúcula, rabanete, nabo, abobrinha, pepino, repolho, milho e vagem, mas mesmo
com todos os meus esforços a terra era fraca, eu colhia para gasto doméstico, e
juro, tinha em casa verdura todos os dias.
Quem pode testemunhar
que eu lavrei a terra em minha infância é o Paulo Roberto Alves Ramos, pois uma
vez eu o chamei no quintal e imaturamente eu lhe disse:
Trabalhe,
trabalhe aqui, e apontei o dedo para a terra, ele e mais um grupinho que lhe
acompanhava deu as costas para mim.
Realmente o
errado era meu irmão mais velho que me ensinou estas práticas de plantio, mas
foi ali que eu descobri que tinha escoliose, foi o Dr Jorge, um médico de Irati
quem diagnosticou esta doença em mim, as dores nas costas eu tenho até o dia de
hoje, e já me acostumei, mas na época o Dr indicou natação para mim, e eu ia na
piscina e via a voluptuosidade do corpo da Raquel Lupepsa, mas minha inocência
e ingenuidade me diria que ela não me pertenceria, eu ao menos sabia conversar.
Não existia
muito marasmo naquela fazenda, o Renato Russo estava enganado.
Eu tinha
criação de galinhas e meu pai de quatro a cinco porcos.
Todos os dias
eu regava as plantinhas e ia vê-las crescerem.
Hoje eu sou
escritor, e se eu tiver uma chacra hoje em dia vai ser uma outra história, não
a mesma história dos hortifrutis das grandes corporações, eu não empregarei nem
uma gota de agrotóxico e de adubo químico, até aí eu copio o que a ramificação
dos acontecimentos da infância me dizia em silêncio, mas não tinha filosofia
alguma naquele lugar, era trabalho penoso, e se o Paulinho e o Juarez tivessem
se submetido a estes trabalhos, o Carlos Roque Bobato teria sido o imperador,
mas ele regressou de onde tinha ido e não acompanhava meus trabalhos.
É claro que plantar uma meia dúzia de mudas de alface num canteiro já preparado iria impulsionar meus aprendizados, mas eu creio que eles interpretaram como sendo escravidão, e nada, absolutamente nada me disseram, e daí eu fui arrastado para as fileiras do exército, sem nada a compreender. Autor-historiador Reginaldo Afonso Bobato